É provável que já se tenha notado que sou um bocadinho (= bocadão) ressabiada com a minha idade. Não que tenha problemas em assumi-la, faço até questão de a alardear aos sete ventos, mas o certo é que não me vejo e sobretudo não me sinto, com tanto ano como os que tenho.
Ficou-me da adolescência a firme convicção de que quem tem mais de trinta está acabado para a vida e completamente obsoleto. E agora? Como dar a volta a esta forma de pensar? Não consigo! Dai que passe o tempo à volta desta questão da idade e dos anos que tenho. E a lembrar constantemente toda a gente que já sou uma pessoa super idosa. Aí de quem me dá ainda mais do que aquela que tenho. Faço logo uma escandaleira, digo que estou que não posso, que é uma injustiça, que tem de ir ao oftalmologista e outras coisas próprias de quem se sente profundamente ultrajado (sou pouco dada as coisas menos próprias que se podem dizer nestas ocasiões). Já quem me tira anos é brindado com um enorme sorriso e uma consideração inexcedível a todos os níveis.
Um dia destes fui apresentada ao professor de pintura da minha Mãe. Senhor já sexagenário, e que me brindou com a pergunta: “Quantos anos tem? “25,26?”. Como é obvio, de imediato passou a ocupar um lugar no meu coração e a ser considerado como uma jóia de Senhor.
Mas não se pense que estou assim tão tonta. Pois que não sou. Posso parecer, mas não sou. Ainda que tenha apreciado a coisa não deixei de pensar que tinha sido uma pergunta fabricada para matar dois coelhos de uma cajadada. Agradar a Mãe e cativar a Filha. Tomei, apenas e só, como um simples galanteio sem grande justificação factual, porque 25 anos não pareço ter de certeza. E pronto a vida continuou, registando-se a graça do sucedido ( é verdade, shame on me…., contei o episódio a mais de quinhentas pessoas).
Ora hoje aconteceu algo que por mais que dê voltas não consigo refutar( nem quero!). Como se sabe, da boca das crianças só saí a verdade e são elas os seres deste mundo mais ingênuos e destituídos de qualquer interesse ou maldade. As crianças são puras de espirito! E foi pela boca de uma criança de três anos que ouvi uma frase que me fez rejubilar. Dizia ela para a Tia referindo-se a mim:
“Dá o papel à menina”.
Pronto. Foi isto. Foi isto que me fez ganhar o dia. Até para uma criança de três anos se torna evidente o disparate que é ter esta idade. Não pode ser! Pois se ainda sou chamada de menina! Como posso eu convencer-me que tenho quase 40 anos?
Não posso!
4 comentários:
Eu odeioooo que me chamem menina. Em todo o lado me chamam menina. Nos bares da faculdade, quando me abordam na rua para perguntarem alguma coisa, etc. Odeio!
Folgo muito em ver-te mais bem dispostinha menina K.
Beijo
Rita M.,
Eu também destestava e no entanto! Vais ver que chega a uma altura em que passas a adorar. Dá-te tempo.
:)
SRRAJ,
Obrigada! Sabes, com certeza, o quanto é bom para mim olhar assim do alto para a minha pessoa e ver que sim, ando mais bem disposta.
Beijo!
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