Impulso que permanece comigo, é aquele que faz com que quando me acontece uma coisa boa, diga para os meus botões…”Tenho de contar ao meu Pai”, “Hei-de dizer ao meu Pai”, “Vou perguntar ao meu Pai”. Apesar de ele não estar presente, estes hábitos de uma vida não passam assim com um estalar de dedos.
Até agora a minha reacção tem sido…”Não sejas tonta!” e com um abano de cabeça e um sorriso cúmplice que com o meu Pai partilho, me fico e sigo em frente. “Não vês Pai? Que tonta sou!”…e sorrimos os dois.
Não me tem custado fazê-lo. Ou melhor, não tenho deixado que me custe. E é-me até reconfortante, esta partilha absolutamente solitária que faço com ele. Como se assim estivéssemos mais próximos.
Um Domingo destes distrai-me desta minha “Concentração” e o desespero instalou-se de uma forma avassaladora. Tudo porque reparei que o sorriso cúmplice não existe. Que é uma invenção minha.
E cai num choro imenso. Daqueles que doem. Muito até. Onde não se faz barulho e as lágrimas parecem não ter fim, caindo em catadupa como se existisse um armazém de liquido algures no nosso corpo que de repente resolveu mostrar-se ao mundo.
Foi a primeira vez que chorei desde Fevereiro. Desde que o meu Pai morreu. Posso dizer que o choro me era/é necessário para que possa seguir em frente. Entendo que isto faz parte do processo que tem de passar alguém que perdeu um ente querido. Que ao exteriorizar estou a avançar mas o chorar é-me tão desconfortável e o sorrir e seguir em frente tão, mas tão confortável.
Como também me é confortável escrever, pôr cá para fora estas coisas, que também tenho adiado e evitado, porque doem e porque corro o risco de desidratar durante o processo.
Mas terminei o desabafo.
Com um sorriso.
Beijo, Pai!