quinta-feira, 21 de julho de 2011

Impulso

Impulso que permanece comigo, é  aquele que faz com que quando me acontece uma coisa boa, diga para os meus botões…”Tenho de contar ao meu Pai”, “Hei-de dizer ao meu Pai”, “Vou perguntar ao meu Pai”.  Apesar de ele não estar presente, estes hábitos de uma vida não passam assim com um estalar de dedos.

Até agora a  minha reacção tem sido…”Não sejas tonta!” e com um abano de cabeça e um sorriso cúmplice que com o meu Pai partilho, me fico e sigo em frente.  “Não vês Pai? Que tonta sou!”…e sorrimos os dois.

Não me tem custado fazê-lo. Ou melhor, não tenho deixado que me custe.  E é-me até reconfortante, esta partilha absolutamente solitária que faço com ele.  Como se assim estivéssemos mais próximos.

Um Domingo destes distrai-me desta minha “Concentração” e o desespero instalou-se de uma forma avassaladora.   Tudo porque reparei que o sorriso cúmplice não existe. Que é uma invenção minha.

E cai num choro imenso. Daqueles que doem. Muito até. Onde não se faz barulho e as lágrimas parecem não ter fim, caindo em catadupa como se existisse um armazém  de liquido algures no nosso corpo que de repente resolveu mostrar-se ao mundo. 

Foi a primeira vez que chorei desde Fevereiro. Desde que o meu Pai  morreu.  Posso dizer que o choro me era/é necessário para que possa seguir em frente. Entendo que isto faz parte do processo que tem de passar alguém que perdeu um ente querido. Que ao exteriorizar estou a avançar mas o chorar é-me tão desconfortável e o sorrir e seguir em frente tão, mas tão confortável.

Como também me é confortável escrever, pôr cá para fora estas coisas, que também tenho adiado e evitado,  porque doem e porque corro o risco de desidratar durante o processo.

Mas terminei o desabafo.

Com um sorriso.

Beijo, Pai!