Eu não sei se já se notou, mas tenho uma certa panca com a minha idade. Sobretudo com a crueldade do número de anos de que vou sendo detentora e com o seu crescer contínuo e ininterrupto. Coisa boa, até. Sinal de que vou cá andando. No entanto, para mim é um verdadeiro sufoco.
E é num verdadeiro estado de revolta e não aceitação da realidade, que assumo os anos que tenho. Não tem nada a ver com o assumir para os outros. Nada disso! Até porque passo o tempo a apregoá-los, alto e bom som, para quem quiser ouvir. E que de passagem me diga que não pareço nada, de preferência. O problema sou mesmo eu. Tal o estigma da coisa, que faltando-me 2 anos e 14 dias para os 40, já há muito, na minha cabeça, penso que os tenho.
Não me vejo com os 37 anos, do B.I.. Eu, que nas minhas contas, nem 30 ainda fiz. Os meus projectos de vida terminaram logo depois dos 27. Nunca projectei a vida para os anos que se seguiriam. Não por pensar que não os ia viver, mas porque não achei necessário. Nunca pensei em mim e nos meus amigos com esta idade. E acho tudo tão estranho. Não pode ser. Será verdade que já passaram tantos anos? Não pode mesmo ser. Não acredito! Para onde foram? Eu não dei conta que se sumiam assim!
E sinto-me igual apesar da idade mais avançada. Continuo a ser eu. Tonta, parva, insegura, criança, muito mais crescida em tantos aspectos, mas na essência igual. Com a mesma forma de pensar, os mesmos gostos, a mesma personalidade, o mesmo mau feitio, a mesma palermice.
O que me levou a pensar nos meus netos, nos filhos dos meus filhos, esses mesmo que ainda não tenho. Na forma como eles veriam a sua Avó e como se compatibilizaria essa Senhora reverendíssima com esta garota que aqui escreve. E dos meus netos cheguei aos meus Avós. Como eu os vejo. E o pouco que sei deles.
Pela ordem natural da vida já os conheci numa idade avançada. Nasci já eles tinham vivido muito. Situações que inevitavelmente não acompanhei. Por deles viver longe nunca pude acompanhá-los muito de perto, também. Nem eles a mim, de facto. Mas ficou a nostalgia de pensar “Que conheço eu dos meus Avós? Como evoluíram eles ao longo do tempo? Que sonhos tinham, que sonhos viveram, que sonhos mantêm?”. Como chegar mais perto da pessoa Avô?
E liguei os assuntos de novo, pensando o quão bom seria poder ler os pensamentos dos meus Avós. E ter acompanhado o seu evoluir de vida. Da forma como os meus netos poderão fazê-lo através deste blogue. Era um privilégio que adoraria ter.