Lido mal com elogios. É muito raro aceitar algum sem fazer uma enorme birra e desancar de imediato quem o emitiu. Tenho de estar muito distraída para que passe sem reclamar. Ainda assim, e bem entendido que não sendo nenhuma selvagem social, muitas vezes não tenho outro remédio senão encaixá-lo, mesmo que a contra gosto. A estratégia, nesta situação, é um bocadinho diferente da anterior. Mudo, às pressas, de assunto para poder acabar com o embaraço momentâneo, que me atacou, o mais depressa possível. Ou começo de imediato a tentar convencer os outros que estão a ver mal e que não, aquele elogio não pode ser para mim.
Mas as pessoas, vá lá saber-se porquê, gostam de me elogiar. Outro dia foi a minha pele:
“A tua pele está fantástica. Mesmo bonita!”
Eu, a disfarçar, fui logo dizendo “Está?! Nem creme tenho posto! Ando na fase da preguiça.”
“Ai sim?” Dizem-me.
E blá blá para cima, blá blá para baixo, lá me escapei ao assunto sem padecer de um grande tormento.
Mas de repente pus-me a pensar.
“Gasto eu rios de dinheiro (nem tanto assim porque sou mais forreta que o Tio Patinhas em certas coisas), rios de dinheiro! Horas da minha vida a limpar, a aplicar creme. a cuidar da cutis e é precisamente num período em que a preguiça anda toda à flor da pele, que não me lembro a última vez em que me vi frente ao espelho para estes cuidados, que me elogiam assim ? Devo estar doida, no mínimo!”
E depois querem que aceite elogios sem fazer cara feia e ripostar!