domingo, 13 de março de 2011

Aconteceu

Ressalva: Ainda que eu não possa precisar os exactos termos em que correram os dois telefonemas que abaixo descrevo, dada a distância do tempo em que os recebi e o acontecimentos que deles decorreram, acho, no entanto,  que estão minimamente fieis ao que foi dito e sobretudo ao que eu senti quando os recebi.

Telefonema 1

- Kika?

- Sim?

- Onde estás?

- Na Clínica. Porquê?

- Preciso de falar contigo.

- Falar comigo? Mas porquê?

- (Silêncio) Sim. Preciso de falar contigo.

- Mas de que assunto? Há algum problema?

- Sim..

- Há? Então?

-Vá, vou ter aí contigo.

- Mas que problema?

- Já vou ter aí contigo…

- Mas que problema???????????

- De saúde. Vá, já aí vou ter…

- Ok…

Morri por dentro.

Tentei desvalorizar.  Não era a primeira vez que o meu Pai me procurava com idêntica conversa.  Já deveria ter algum treino na coisa.  Mas, apesar da prática, de  umas vezes para as outras não conseguia aclimatar-me a estas notícias que ele de repente me resolvia dar, assim em primeira mão, sem que houvesse preparação prévia.  Era meu o privilégio de apanhar estes sustos. E nada havia a fazer. Restava-me aguentar o tranco, arranjar a calma e o  discernimento necessário para fazer as perguntas que o  poriam a falar do assunto, me fariam recuperar do abanão e lhe dariam a tranquilidade necessária para encarar o “problema de saúde”.

Não foi diferente desta vez.

A única diferença foi que desta vez existia mesmo problema.

Telefonema 2

- Kika, podes chegar aqui?

- Vou já.

Nem nada mais disse,  perguntei,  argumentei ou ripostei.  Sabia ao que ia quando recebi o telefonema. Ainda que nunca tivesse recebido um telefonema assim.

Estes dois telefonemas, tão aparentemente singelos, nunca mais os vou esquecer na vida e marcam um principio e um fim. Que eu não quero descrever, mas que não posso deixar de marcar.